sábado, 23 de junho de 2012

PSOL E PCB LANÇAM RENATO ROSENO E SORAYA TUPINAMBÁ PARA A DISPUTA DA PREFEITURA DE FORTALEZA

Movida pela participação de inúmeros militantes e pelo sentimento que anima essa Fortaleza insurgente, a candidatura de Renato Roseno à Prefeitura Municipal de Fortaleza foi homologada, hoje, durante a convenção que confirmou a aliança do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) com o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Representante do PCB, Paiva Neto ressaltou que à constituição da frente anticapitalista devem se somar os movimentos sociais e as juventudes da capital cearense. Juntos, os partidos apresentaram como vice a ambientalista Soraya Tupinambá, que representou o PSOL nas eleições ao Governo do Estado, em 2010. 
Única mulher que participará de uma disputa que, até a manhã de hoje, estava hegemonizada por homens, Soraya afirmou que seu papel é o de ressaltar o enfrentamento às dificuldades da participação da mulher na política: “Vamos dialogar com o movimento feminista e com toda esta cidade, que é uma das que registram maior número de violência contra as mulheres. É, preciso, mais do que nunca, pronunciar o papel das mulheres, o que faremos também através das diversas candidatas a vereadora, como Toinha Rocha, Marilene Torres, Nascélia Silva, que são militantes que atuam nos movimentos sociais, nos sindicatos, etc.”.
Criticando a construção artificial das candidaturas palacianas, Roseno lembrou que a chuva de ontem fez aparecer o que máquina publicitária nenhuma pode esconder: “Hoje nós vivemos em um ambiente insalubre, sem qualquer forma de participação das maiorias sociais na ocupação do território. Uma gestão nossa é uma gestão de inversão de prioridade. E nós sabemos que isso é possível, porque nós vemos a criação do novo se expressando a cada esquina. Por isso, apostamos na radicalidade democrática. Hoje a cidade cresce a partir dos interesses da especulação imobiliária. É preciso mudar essa lógica, produzir um planejamento de longo prazo para Fortaleza”.
Por isso, “mais que uma convenção para sagrar nomes, é necessário que aqui pulsemos vida. Este é um momento cheio de oportunidades e de desafios. Na primavera árabe, na Espanha, em diversos lugares do mundo as pessoas estão inundando as ruas para enfrentar o conservadorismo e a violência. Aqui em Fortaleza, a história já demonstrou que, em momentos mais tensos e piores, foi possível mudar. É nessa possibilidade que acreditamos.”, destacou o candidato do PSOL à Prefeitura Municipal de Fortaleza.
Soraya falou também da necessidade de renovar a forma de fazer política. “A Fortaleza que nos move deve ser apresentada desde agora, por isso negamos o financiamento privado de campanhas, porque isso capturou a política e privatizou o estado. Nos movem não as instituições, mas a sociedade, as pessoas que não se conformam com o Acquário ou com as remoções por causa da Copa.”. Nesse sentido, foi apontado que esta campanha terá o desafio de combater o uso da máquina pública, romper com a indiferença e chamar as pessoas para que elas tomem as candidaturas em suas mãos. “Só assim nós vamos colocar os de baixo no segundo turno!”, finalizou.

PROGRAMA
Durante a convenção, Roseno apresentou as seis dimensões que orientam o programa de governança que será apresentado pelo PSOL e pelo PCB à cidade de Fortaleza:
Território – “O território é o nosso lugar de relações primeiras: a rua, o beco, a viela, a comunidade, a casa. A cidade deveria ser a nossa casa, mas a cidade do capital quer que a cidade seja uma mercadoria e, lamentavelmente, essa gestão está submetida à lógica da cidade. Nós queremos falar das relações que cortam o território, como a mobilidade dos humanos. As pessoas querem e devem ter o direito de ir e vir.”.
Riqueza – “A concentração da riqueza salta aos olhos. Estamos em uma cidade que tem que fazer greves corajosas porque o servente de pedreiro e o motorista não podem sobreviver com o que ganham. Para nós, a riqueza é o alimento. A cidade que nós queremos é uma cidade que dispute o sentido da riqueza, que amplie a riqueza pública, que produza formas alternativas de produzir essa riqueza. Por que a cidade não pode ter a ousadia de ter um grande programa de agroecologia urbana para que as comunidades possam produzir parte de seu alimento?”.
Saber – “O saber que defendemos é o saber que insurge e que liberta. Mas não é possível pensar a qualidade da escola sem pensarmos a relação que a cidade tem com o educador e a educadora. Os que estão no poder receberam os educadores a spray de pimenta e a cassetete. (…) Nós também falamos do saber das comunidades em luta, produzindo cultura popular. A cidade tem que ser uma escola.”.
Natureza – “Nossa natureza é a das praças, das áreas verdes. O nosso programa tem que fazer uma opção entre as áreas verdes e a construção de shoppings. Nós optamos por ter na cidade uma série de atividades que não destroem o meio ambiente. Qual é o metro de área verde que os nossos filhos hoje tem para brincar? Qual o lugar do lazer das crianças? Isso não pode ser natural. Esta é uma cidade que produz adoecimento físico e mental.”
Poder – “Hoje, a política é feito a mando e a base de uma enorme máquina fisiologista e patrimonialista. Nosso grande pacto é com a maioria na cidade. Nós podemos não ter maioria na câmara, mas nós temos que ter maioria na rua. Tudo o que nós propomos só será possível se tudo for abraçado e for fruto da íntima relação que temos que ter com a cidade. Esse é um desafio de milhares. Pensar no poder é pensar na praça, não é pensar no palácio. Nós não somos rendidos às institucionalidades convencionais.”.
Bem viver – “A política para nós não é uma opção, é um imperativo, uma urgência e uma necessidade. É um exercício de recusar esse mundo como ele é e construirmos outro, palmo a palmo. Por isso, os que aqui estão estamos a serviço. Nós não estamos produzindo heróis ou monumentos. A nossa fortaleza vem da nossa sinceridade.”.
TRAJETÓRIAS
Renato Roseno é a expressão de diversos coletivos e movimentos sociais que defendem que a vida esteja acima do lucro. A inquietude e a insurgência marcam a trajetória do advogado e militante socialista que, desde a adolescência, escolheu desnaturalizar as diferenças de classe, gênero, etnia ou orientação sexual; estranhar as desigualdades sociais na cidade; rebelar-se contra toda injustiça, especialmente contra crianças e adolescentes. Tudo isso junto a muitos homens e mulheres que escolheram trilhar o mesmo caminho.
Participou do movimento estudantil universitário e, desde então, tem atuado no campo da advocacia popular, contribuindo com movimentos por moradia e contra a violência policial. Foi assessor do então Deputado Estadual João Alfredo por cinco anos; participou da fundação do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente no Ceará, organização que coordenou por seis anos; foi conselheiro titular do Conselho Nacional dos Direitos da Criança (CONANDA); coordenou a Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (ANCED) e assessorou a entidade no monitoramento da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança.
Aqueles e aquelas que lutam em defesa dos direitos humanos sabem que Renato Roseno é uma referência, em todo o Brasil, nessa temática. Seu saber veio da experiência junto a meninos e meninas das periferias urbanas e dos povos em luta em diversos países. Sua ação cotidiana reforça nosso aprendizado e compromisso com a certeza que precisamos de uma revolução nos valores, nas práticas e nas políticas. Por tudo isso, Roseno apresenta não a carreira convencional dos que se revezam no poder ou dos que foram construídos pelas máquinas administrativas, mas a trajetória daqueles e daquelas guiados pelo movimento e pela certeza de que nada é impossível de mudar.
Soraya Tupinambá iniciou sua militância há mais de vinte anos, ainda estudante. Desde então, tem se dedicado à renovação da prática e da reflexão socialista. Compreende que as lutas contra a exploração da humanidade deve ser acompanhada do combate à destruição do planeta, pois vivenciamos a crise de um modo de vida que traz drásticas repercussões ambientais. Como engenheira de pesca e militante ecossocialista, Soraya participou de organizações políticas e movimentos sociais que apoiam as lutas, no litoral e no sertão, contra o modelo predatório que marca o projeto de desenvolvimento aplicado no Ceará.
Todos que lutam em defesa da água, da terra, pelo respeito às populações tradicionais e por um Ceará popular, ecológico e socialista reconhecem que Soraya é a síntese da sabedoria serena e firme da luta de nossos povos. Junto a pescadores, índios, mulheres trabalhadoras, trabalhadores do sertão e da cidade, ela proclama um projeto alternativo de economia, agricultura, turismo de base cultural e ecológica.
Texto: Helena Martins - http://www.direitoacomunicacao.org.br


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